Milionário português foi amigo de Juscelino Kubitschek

Em boa parte de seus 98 anos de vida, Lúcio Tomé Feteira não foi apenas — se é que o termo cabe no caso — uma das maiores fortunas da Europa. O empresário, filho de um industrial, era um homem influente, que tinha em seu círculo de amizades políticos do mundo inteiro.

Em 1966, enquanto Portugal ainda vivia sob a ditadura de Antônio Salazar e os militares expulsavam políticos no Brasil, o milionário deu abrigo num apartamento em Lisboa ao ex-presidente brasileiro Juscelino Kubitschek. O episódio é narrado pelo próprio JK numa carta escrita ao empresário em dezembro daquele ano. Feteira também vivera a experiência do exílio: na década de 1940, teve de deixar a terra natal por cinco anos, devido a problemas políticos com Salazar.

Detentor de uma patente na área de vidros, o empresário multiplicou a fortuna da família, chegando a possuir uma fábrica em Paris, na França. Pai de um filho portador de necessidades especiais — que morreu em 1975 — ele encomendou ao arquiteto brasileiro Airton Cornelsen, hoje com 88 anos, um projeto para a construção de um hospital. Em parceria, os dois construíram pelo menos 32 prédios em Portugal. O milionário era também dono de terras, como aquela em que foi erguido o Autódromo do Estoril, em 1972.

— Feteira vendeu o terreno e fizemos o Autódromo de Estoril com Fernanda Pires da Silva, da Construtora Grão-Pará. Fiz um projeto de um hotel e de um hospital para tratamento de pessoas portadoras de necessidades especiais: Feteira queria fazer o hospital para o filho ficar sob sua proteção em uma coisa própria — explica Cornelsen, conhecido como Lolô, que vive atualmente em Curitiba, no Paraná.

Foi em 1967, pouco depois de acolher Juscelino, que o milionário iniciou um relacionamento — até então, profissional — com Rosalina. Contratada para ser secretária do empresário, demorou apenas um ano para que os dois se envolvessem. Ela tinha 33 anos; ele, 67. A diferença de idade não impediu o romance. O fato de Lúcio Feteira ser casado à época, também não.

Ao lado da amante, o empresário viajou a Europa e foi recebido por estadistas como Valéry Giscard d’Estaing, presidente da França entre 1974 a 1981, e Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica de 1979 a 1990. A cantora de fado Maria Alcina Duarte conheceu Rosalina e Feteira na década de 80, quando os dois viviam com um pé no Brasil e outro em Portugal:

— Ela contou pra mim que, quando era jovenzinha, casou-se com um amigo do Feteira que era mais velho. Depois que ficou viúva, foi trabalhar com o empresário e o relacionamento começou. Os dois tinham uma relação linda. Apesar de viverem juntos, ela o chamava de Sr. Feteira. Já para ele, ela era apenas Lina.