segunda-feira, 4 de julho de 2011

As revelações de Rosalina ao advogado Duarte Lima

Horas antes de ser morta, no Brasil, a companheira de Lúcio Feteira contou como receitas da herança ainda indivisa do milionário português estariam a ser desviadas ilegalmente.


O ex-líder parlamentar do PSD foi a última pessoa identificada a estar com Rosalina Ribeiro
Por José Ventura


Numa 'lanchonete' de rua, já de noite, Domingos Duarte Lima esperou a cliente.
Tinham combinado um encontro às 20 horas para essa segunda-feira, dia 7 de Dezembro de 2009. O advogado voou de propósito de Lisboa para Belo Horizonte, dois dias antes, e fez depois os 460 quilómetros até ao Rio de Janeiro de carro. Rosalina da Silva Cardoso Ribeiro não queria falar pelo telefone. O assunto era demasiado delicado e urgente para só ser abordado quando ela regressasse a Portugal no dia 12. A cliente ligara-lhe de uma cabina pública a acertar a hora e o local e não disse às amigas com quem ia ter. Era suposto ser segredo.
De pasta na mão, a septuagenária portuguesa desceu do sétimo piso do número 60 da praia do Flamengo, no centro do Rio de Janeiro. Contornou a esquina, entrou na 'lanchonete' (pastelaria) e sentou-se a uma mesa com Duarte Lima, antes de ser executada por um assassino profissional, duas horas e um quarto mais tarde, às 22h15, a 65 quilómetros dali, para norte, no município de Maricá, com duas balas de calibre 38, uma na cabeça e outra no peito (o corpo seria encontrado sem a pasta de documentos e sem a carteira, mas com o relógio e as joias).
Durante o encontro de meia hora, na 'lanchonete', Rosalina aconselhou-se com o advogado sobre dois temas, pelo que Duarte Lima veio a contar depois ao delegado Filipe Ettore da divisão de homicídios da polícia civil do Rio de Janeiro. O primeiro era um negócio, o segundo uma denúncia.

Vender o testamento
A antiga secretária e companheira de Lúcio Thomé Feteira, falecido em 2000 aos 98 anos, queria pôr um ponto final na disputa que há quase dez anos mantinha nos tribunais com a filha única do empresário português, Olímpia Thomé Feteira de Menezes, sobre a repartição de uma herança de várias dezenas de milhões de euros. E a forma que encontrou foi vender a posição dela deixada em testamento de 2,5% sobre todo o património do milionário (o equivalente a 15% da herança legalmente disponível), mesmo sabendo que, pelos tribunais, naquele momento, não tinha direito a nada. A decisão a seu favor, por um tribunal de Lisboa de primeira instância, só seria conhecida três dias após a sua morte.
Desde o início de Setembro de 2009, quando viajou de Portugal para o Brasil, que Rosalina estaria a estudar no Rio de Janeiro duas ofertas para comprarem a posição dela na herança, de acordo com uma fonte próxima de Duarte Lima. O antigo líder parlamentar do PSD coordenava desde 2001 a equipa luso-brasileira de advogados da septuagenária criada para disputar a herança mas só soube em Outubro do ano passado, pelo seu colega brasileiro Romando Ventura, das intenções da cliente em se desfazer dos direitos à herança.



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