RIO - Cinco municípios fluminenses que estão recebendo investimentos de R$ 64,5 bilhões - entre refinaria, portos, estaleiros, complexo imobiliário e montadora de carros - se transformaram em palco de acirradas disputas eleitorais. E neste valor não estão incluídos os royalties de petróleo, que somam R$ 346 milhões. São 24 candidatos concorrendo ao cargo máximo do Executivo de Itaboraí, Itaguaí, Maricá, Resende e São João da Barra. Uma ideia da relevância que esses locais ganharam está na previsão dos gastos de campanha: R$ 39,9 milhões, uma alta de 78% ante as eleições de 2008. Impugnações de candidaturas, atos irregulares e casos de polícia entraram em cena nas cidades, cujos prefeitos terão o desafio de transformar em realidade os anunciados benefícios dos grandes projetos.
- Estamos atentos a Itaboraí. O acirramento
político, influenciado pela disputa econômica, está acima do aceitável para uma
disputa eleitoral. Convoquei uma reunião com todos os candidatos, e eles serão
advertidos oficialmente pelo Tribunal. Há situações que extrapolam o jogo
eleitoral, e não vamos permitir isso.
O auge da tensão foi o atentado ao coordenador de
campanha do candidato à prefeitura Helil Cardozo (PMDB), cujo carro foi
atingido por sete disparos este mês. Em agosto, o candidato a vereador
Alexandre Perim (PV) foi ameaçado de morte por homens armados.
O pleito atraiu "forasteiros", como
Márcio Panisset (PDT), irmão da prefeita de São Gonçalo, Aparecida Panisset; e
Altineu (PR), ligado ao ex-governador Anthony Garotinho.
especialista:
'grupos movidos pela ambição'
Outra cidade com pesados investimentos nos próximos
anos é Maricá. Um porto de R$ 5 bilhões e um complexo imobiliário de R$ 8
bilhões chamam atenção dos partidos. Cinco candidatos a prefeito concorrem pela
preferência de 84 mil eleitores, e pretendem gastar três vezes mais que em 2008
para se eleger. Os candidatos a vereador são 263 (eram 178).
O petista Washington Siqueira, o Quaquá, busca o
segundo mandato em meio a uma disputa judicial. Ele foi considerado inelegível
por oito anos pelo juízo da 55ª Zona Eleitoral (Maricá), após distribuir 14 mil
notebooks a alunos da rede municipal de ensino. Mas recorreu ao TRE-RJ e, por
enquanto, pode concorrer.
Diante do desgaste, tem evitado aparições. Mas a
campanha segue a todo vapor, com placas turbinadas pelos apoios da presidente
Dilma e do ex-presidente Lula. As ruas do município, repletas de propagandas,
tornaram-se canteiros de obras da prefeitura, a maior parte atrasadas e feitas
com recursos federais. Uma das mais emblemáticas é a construção de um cinema de
R$ 1 milhão numa rua do Centro.
Quaquá briga com o ex-prefeito Ricardo Queiroz
(PMDB), que teve a candidatura contestada pelo Ministério Público Estadual.
Queiroz é apoiado pelo governador Sérgio Cabral. Além dele, de Dilma e Lula,
outros pesos-pesados emprestam seus nomes em Maricá. Marcelo Delaroli (DEM) tem
apoio de Garotinho. E uma das principais apostas no estado do PSD (o partido de
Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo) é a campanha de Hélcio Ângelo.
Em Itaguaí, com investimentos da Marinha para
construção de submarinos e a chegada de novos terminais portuários, Alexandre
Valle (PMDB) tem suporte do prefeito Charlinho. Nascido no Rio, Valle é tido
por "forasteiro", e concorre contra locais como Aramis Brito (PSC),
um "filho de Itaguaí".
Em torno de projetos como o Porto do Açu (R$ 2,7
bilhões) e o estaleiro OSX (R$ 3 bilhões), São João da Barra, a chamada
"cidade de Eike (Batista)" tem duas fortes campanhas. Ligado à prefeita
Carla Machado, Neco concorre pelo PMDB. Do outro lado, o ex-prefeito Betinho
Dauaire (PR). Pessoas próximas às campanhas garantem que Eike não se envolve.
Em São João, tão grandes quanto os investimentos são os desafios: a taxa de
analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais, por exemplo, é de 9,8%.
- Temo que a situação piore, assim como em outros
desses municípios que recebem grandes investimentos - diz José Luis Vianna,
professor da Universidade Federal Fluminense e especialista em gestão de cidade.
- As estruturas (das candidaturas) não mudam: são grupos movidos pela ambição
de controlar a arrecadação.
Em Resende, que terá uma nova montadora e suas
fabricantes de peças, surgiu um vídeo clandestino. O candidato do PMDB, Noel de
Carvalho, exibiu uma conversa com o atual prefeito e candidato à reeleição,
José Rechuan (PP). Na gravação, Rechuan fazia uma proposta para Noel desistir.
O prefeito alega que o vídeo foi manipulado. Mas Noel diz que foi editado. O
TRE embargou o vídeo. (Colaborou Renato Onofre
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