segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Matéria completa do seqüestro envolvendo o filho do médico maricaense Carolino dos Santos

Autora de seqüestro afirma:

Filho de Carolino é inocente


Após ganhar a liberdade condicional, Sheila Márcia Ribeiro quer agora que advogado acusado de ter participado da quadrilha que levou recém nascida de São Gonçalo seja inocentado. Falando com exclusividade à GAZETA RJ, Sheila garante que Marcus Antonius Silva Santos não sabia e nem participou da ação

Tanto quanto qualquer pessoa normal, Sheila Márcia Ribeiro quer apenas justiça. Após passar três anos presa pelo seqüestro de um bebê recém-nascido, em 2008, a promotora de eventos de 34 anos deixou a penitenciária há cerca de dois meses e, dizendo-se renovada, está em liberdade condicional. Um de seus objetivos agora é provar que um dos indiciados pelo crime é, na verdade, inocente. Falado com exclusividade à GAZETA RJ, Sheila garante que o advogado Marcus Antonius Silva Santos, atualmente preso em Mato Grosso, não teve participação efetiva no caso.

“A única relação que tive com Marcus foi a venda de um imóvel a ele. Quanto ao seqüestro, ele realmente não sabia e não participou de nada”, afirmou Sheila à reportagem do Jornal Gazeta, recebida por ela na casa onde mora com a mãe, em Maricá. A ex-presidiária assume ainda a responsabilidade pelo indiciamento e conseqüente prisão de Marcus e diz que hoje vê como uma missão, inocentar o advogado.

“Além de ele me dever dinheiro pela compra da casa, eu me senti abandonada na época, nos primeiros dias de prisão ainda na delegacia. Tive um impulso de raiva e, ainda por cima, acabei sendo induzida a incriminá-lo porque, naquela ocasião, achavam que isso poderia facilitar as coisas para os envolvidos, uma vez que se tratava de uma família tradicional”, recorda ela.

Ao contrário do que se cria na época, Marcus Antonius acabou tendo a prisão decretada pela Vara Criminal de Itaboraí, onde ocorreram as audiências do processo – a família morava em São Gonçalo mas a criança foi levada da mãe na Rodovia RJ-114, na altura do bairro do Pacheco, próximo ao limite com Maricá. O advogado só foi detido, no entanto, no fim de junho, após ser localizado por policiais civis de Mato Grosso, onde continua preso.

“O que mais quero é ser perdoada pela família Carolino, mas até hoje não sei como encarar uma mãe que está sofrendo por culpa minha. Digo isso porque sei o que a minha mãe também sofreu quando fui presa”, conta Sheila, revelando que dona Lia Ribeiro veio de Salvador, onde a família vivia, para dar apoio à filha na época da prisão e mora com ela até hoje.

“Ela sempre estudou e trabalhou em Salvador, e sempre foi muito boa filha. Mas essa situação nos fez largar tudo o que tínhamos lá na Bahia, deixamos nossa vida toda lá. Se Deus assim permitir, vamos recuperar tudo o que perdemos”, acredita a mãe, contado que Sheila estudava Marketing e promovia eventos de grande porte na capital baiana. “Ela quer voltar a estudar”, diz dona Lia.

Para Sheila, porém, o pior momento teria sido a acusação de um suposto caso de tráfico internacional de crianças. “Foi assustador, um choque”, avalia. Sem revelar os verdadeiros motivos que a levaram a participar do seqüestro, ela contou apenas que conheceu Marcus Antonius quando teve de vir a Maricá para tratar do inventário do falecido pai, que tinha um imóvel na cidade.


Livro – Depois de quatorze dias numa cela da 73ª DP, Sheila Márcia passou ainda nesses três anos pela carceragem feminina da Polinter em São Gonçalo, pelo presídio Bangu 7 e também pela Polinter de Benfica, na Zona Norte do Rio. Durante o período em que esteve presa, ela afirma ter se convertido ao evangelho e escreveu um livro chamado “Uma Lágrima para Deus é uma Frase”, com histórias bíblicas. Ela disse que vai escrever outra obra contando sua própria história.

“Tudo que a pessoa não aprende ou ignora dentro de casa, a cadeia ensina de forma cruel. Quero aproveitar que consegui esse benefício da liberdade condicional e fazer algo de útil para as pessoas. Além de lutar pela inocência do Marcus e do Alexandre e não deixar que uma injustiça continue ocorrendo, creio que minha história de vida pode ajudar muita gente que não sabe que rumo dar à própria vida”, pondera.

Delegado atestou inocência

Mesmo diante da acusação no inquérito e em juízo, o então delegado da 73ª DP (Neves) e responsável pelo caso, Leonilson Ribeiro, afirmou desde o início que Marcus seria mesmo inocente. Em reportagens publicadas em jornais de grande circulação na época, o delegado reiterou repetidas vezes a participação inconsciente do advogado, e confirmou que o indiciamento por formação de quadrilha ocorreu por causa do depoimento de uma das mulheres que participou da ação.

“Pelo que apuramos, esse rapaz é de uma família tradicional e fez um favor a uma pessoa sem saber sobre suas reais intenções. Na verdade, ele não tem nada a ver com a história”, garantiu o delegado nas entrevistas.
Com a repercussão nacional que o caso ganhou, um dos momentos que se tornou mais marcante foi a emoção do veterano policial ao ver o reencontro da mãe, Luciana Cristina Vasques, com a menina Isabela, que tinha menos de um mês de vida na época do crime.
“Depois disso, posso morrer sossegado”, declarou Leonilson, dizendo que, na verdade, pretendia se aposentar. Numa infeliz coincidência, Leonilson Ribeiro acabou mesmo morrendo meses depois do caso, no dia 11 de setembro, em um acidente de carro no Alto da Boa Vista, na Zona Norte do Rio.

Memória: Falsos produtores enganam mãe

A recém-nascida Isabela Vasques foi raptada na noite do dia 23 de abril de 2008 depois que sua mãe, Luciana Cristina Vasques, então com 25 anos, foi aliciada pelo grupo de quatro pessoas (dois homens e duas mulheres) que se passava por agenciadores de talentos e se apresentaram como produtores do programa ‘Mais Você”, da Rede Globo.

O grupo abandonou a mãe na RJ-114, entre Itaboraí e Maricá, e fugiu com o bebê. Na tarde do dia 25, três dos seqüestradores foram presos por policiais da 73ª DP numa casa próxima ao Saco das Flores, em Maricá. Segundo a polícia, Sheila estava com a criança no colo e disse que iria se entregar.
Luciana contou que assistia televisão um dia antes do crime quando viu um anúncio da Agência Nacional de Talentos, que estaria recrutando crianças para participar de um clipe musical. Ela fez contato através do número divulgado e conversou com um dos supostos produtores de elenco. A princípio, ela queria cadastrar a filha do meio, então com dois anos, mas desistiu ao saber do valor da inscrição, de R$ 135.
O falso produtor, porém, se interessou ao saber que Luciana tinha um bebê recém nascido e disse que eles procuravam uma criança assim. A mãe chegou a ir ao Rio para fazer algumas fotos, e recebeu outra ligação no mesmo dia afirmando que Isabela havia sido escolhida para o programa.



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