quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tuberculose: todo cuidado é pouco

Por: Selma Araújo

Foto: Ana Luísa Freitas



A tuberculose é uma doença antiga que continua assustando muita gente e preocupando as autoridades de saúde no mundo inteiro. Para se ter uma ideia, no Brasil, a tuberculose é quarta causa de mortes por doenças infecciosas e a primeira em pacientes com Aids. O Estado do Rio lidera a estatística no país e a cidade do Rio de Janeiro é a de maior incidência no território fluminense.


Em Maricá não é diferente. O número de pacientes é alto, mas a equipe do Programa de Combate à Tuberculose, sob a coordenação do médico Marcelo Velho, trabalha duro para tratar os pacientes e divulgar medidas de prevenção à doença. O ambulatório funciona na Rua Adelaide bezerra, 186, no Centro, e conta com os médicos tisiologistas Ana Bazin e Renan Rangel para atender à população.

“Como sou nova em Maricá, ainda não tenho a estatística completa e atual sobre a doença na cidade. O índice de atendimentos aqui é alto, mas é preciso levar em consideração que este é um ambulatório de referência. Então, todos os casos são encaminhados para cá, essa é uma estatística viciada”, explica Ana Bazin.

Tosse, febre, emagrecimento e suores noturnos. Com esses quatro sintomas, o doente deve procurar imediatamente a ajuda médica. A doença mata, mas pode ser curada em seis meses. Basta que o paciente siga as orientações da equipe e tome os remédios da maneira correta.

“Normalmente, as pessoas só procuram o tratamento quando não querem mais levantar da cama. Agora, o remédio é tão bom que, em 30 dias, o paciente engorda quatro quilos e fica com uma ótima disposição”, garante Ana Bazin.

Mas este é também um fator perigoso porque, segundo a médica, muitas vezes o paciente se sente tão bem que acha que já está curado e acaba abandonando o tratamento.

“Cerca de 20% dos pacientes em geral desistem do tratamento porque se acham maravilhosamente bem. Esse índice no Brasil é menor que 20%, mas no Estado do Rio, em especial, o índice é mesmo de 20%. No Brasil inteiro é de 7% mais ou menos. Nós temos um índice alto de pouca instrução no mundo inteiro. Isso faz com que as pessoas não entendam que, quando elas se sentem bem o bacilo está lá. O doente, então, pensa: ‘Eu estou bem, já fiquei curado’ e interrompe o tratamento. A partir daí, fica resistente à primeira medicação. A segunda medicação é menos palatável que a primeira. A terceira medicação, então, tem uma injeção durante 90 dias, que para quem está magro e sem musculatura é bastante difícil”, afirma a médica.

O tratamento dura seis meses e os remédios são fornecidos pelo governo, não sendo encontrados em farmácia.

“É um tratamento longo de seis meses, extremamente eficaz. São três remédios que fazem muito bem para o pulmão e menos bem para o estômago. Então o paciente deve se adaptar na primeira ou segunda semana. É importante que o médico pese esse doente para não dar mais remédio que ele possa suportar e geralmente dá certo”, explica Ana Bazin.

Esse quadro pode mudar com a entrada em campo de um novo medicamento que ajudará o paciente a enfrentar todo esse processo. O DFC (Dose Fixa Combinada) deve começar a ser distribuído ainda em setembro no Rio e em São Paulo, estados de maior incidência da tuberculose no Brasil.

“Esse remédio foi um acordo entre alguns laboratórios dos Estados Unidos e a Fiocruz para disponibilizar a maneira de fazer o comprimido. Isso ocorreu em julho, então ainda não deu tempo de preparar a quantidade que precisa para todos os pacientes. Essa medicação vai acrescentar mais um remédio aos três já utilizados. O paciente está tomando, atualmente, seis comprimidos ao dia nos primeiros dois meses de tratamento e duas cápsulas/dia nos outros quatro meses. Ele vai ter mais um medicamento dentro desse comprimido. Então vão ser quatro medicamentos, de uma maneira mais fácil, com menos quantidade de comprimidos. Quando você tira a quantidade de comprimidos o paciente adere com mais facilidade”, explica a médica.

Um dos fatores importantes para evitar a desistência do paciente é a sua relação com médico. Segundo Ana Bazin, o médico tem que incentivar o doente todo mês a continuar o tratamento.

“Você tem que escovar o cérebro dele dizendo: você não pode parar, se você parar vai ser obrigado a tomar outra medicação pior do que esta, você não está bom, você tem que esperar seis meses. Então, a relação médico-paciente tem que ser uma coisa firme e forte. Outra coisa é diminuir o uso de drogas, sobretudo o álcool. E ainda tem a cocaína e o crack, que é deletério. A pessoa fica tão satisfeita com o barato que dá que não pensa em mais nada. Emagrece vários quilos em pouco tempo. Em dois meses está lá com caverna tuberculose nos pulmões. Além disso tudo existe a questão social. As pessoas moram mal, não têm dinheiro suficiente para se alimentar todos os dias. Todo esse conjunto é muito preocupante”, adverte a médica.

O contágio se dá no falar, no tossir. Segundo Ana Bazin, o ideal é que toda pessoa que tossisse pudesse fazê-lo de uma maneira educada, dentro de um lenço, por exemplo, para não espalhar o bacilo. Entretanto, ela lembra que não existe uma regra. É também uma questão de imunidade.

“Teoricamente, são necessárias 400 horas de convívio para ser contaminado. No entanto, tudo depende do grau de imunidade de cada um. Se a imunidade estiver ótima, pode não haver contágio até dentro da própria família. Porém, o bacilo está por aí e se alguém de imunidade baixa passar pode ser contagiado porque o bacilo é agressivo, invasivo, então não precisa de nada, é só passar por aí. Não existe uma regra”, afirma Ana.

Além dos médicos Marcelo Velho, coordenador, Ana Bazin e Renan Rangel, responsáveis pelo atendimento, a equipe é formada por Mauro Povoa, enfermeiro, Raphaela Ramos, técnica de enfermagem, Maria Auxiliadora, auxiliar administrativa e Eliane da Cruz Moraes, que é assistente social. O posto fica aberto diariamente das 8h às 16h e conta com o suporte do Laboratório de Diagnóstico e Pesquisa da Tuberculose, que funciona no Posto de Saúde Central e é responsável pelos exames que comprovam a existência do bacilo de Koch .

Um comentário:

  1. Tudo isso e muito legal mas o medicamento esta em falta ! Um tratamento a base de antibioticos nao pode ser interrompido sob varios riscos : fortalecimento da bacteria, digamos assim, risco de contagio aumentado,etc. Com isso, o nosso querido e dedicado Dr. Renan ficou impossibilitado de nos incentivar a tomar o remedio pois o mesmo nao esta disponivel a uma semana ! Encontrei os remedios em 2 hospitais em Niteroi. Num so era fornecido para internados e outro exigiu encaminhamento do posto de saude. Como pode uma unidade ter e outra nao se e um programa nacional ?

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