Para ONG, Fifa explora a imagem do animal em extinção sem uma contrapartida justa |
Um ano e meio após o anúncio, fracassaram as negociações para aporte de
recursos entre a Fifa e a Associação Caatinga, responsável pelo Projeto de
Conservação do Tatu-Bola. A ONG afirma que a federação ofereceu R$ 300 mil
reais, um valor que considera "incipiente" para seu projeto de dez
anos. Já a Fifa confirma que ofereceu recursos financeiros a uma instituição,
mas não confirma qual, dizendo apenas que a quantia disponibilizada é
"muito maior que as disponíveis para ONGs apoiadas [pela federação] em
todo o mundo".
No capítulo mais recente dessa novela, a ONG explica ter feito uma nova
proposta, já com a Copa em curso, sugerindo que a Fifa colaborasse com US$ 1,4
milhão - o equivalente a 15% do valor total do projeto. Até o momento, a
entidade do futebol não respondeu.
"Não aceitamos a proposta de R$ 300 mil reais porque, com esse
valor, a Fifa não apóia de verdade o projeto para evitar a extinção do
tatu-bola", disse Rodrigo Castro, secretário-geral da Associação Caatinga.
"Fora isso, entendemos que a Fifa poderia ter envolvimento muito
maior [na preservação] do tatu-bola do que explorar a imagem de animal em
extinção para lucrar em cima dele."
Novela
As conversações entre a Fifa e a ONG começaram, segundo Castro, em
janeiro de 2013, quando ele se reuniu com o secretário-geral da Fifa, Jérôme
Valcke. A indicação foi a de que o ambientalista procurasse Frederico Addieche,
diretor de responsabilidade social corporativo da Fifa.
Fifa afirma que o Fuleco tem ajudado a aumentar a conscientização em torno do tatu-bola |
A partir desse primeiro encontro e até o início da Copa, Castro conta
que enviou oito propostas diferentes para a federação. "Uma delas era a de
que a cada Fuleco de pelúcia vendido, US$ 1 fosse doado para a preservação do
tatu-bola", conta o ambientalista.
No site da Fifa, os bonecos de pelúcia do Fuleco estão em promoção: o
menor sai por R$ 79,90 (anteriormente custava R$ 129) e o maior, por R$ 169,90
(antes era R$ 179).
Segundo a assessoria de imprensa da Fifa informou à BBC Brasil, a
organização desenvolve desde 2011 uma estratégia de Sustentabilidade para a
Copa que "vem implementando um plano de ação bastante ambicioso com
numerosas iniciativas, tanto nos campos social quanto ambiental."
"Ao mesmo tempo, e como você pode imaginar, essa estratégia não
cobre todas as questões nem apoia todas as iniciativas possíveis", afirmou
a nota da Fifa. "No Brasil, a Fifa expandiu o seu apoio de 5 para um total
de 26 organizações. O investimento em solo brasileiro chegará a US$ 1 milhão
por ano, por no mínimo 3 anos."
Recusas
Mas, segundo Castro, todas as propostas da ONG foram recusadas pela
Fifa, cuja principal contraproposta foi feita em 9 de maio, cerca de um mês
antes da abertura da Copa..
"O Frederico (Addieche, diretor de responsabilidade social da Fifa)
sugeriu nos doar R$ 300 mil, dizendo que tinha ciência de que era pouco, mas
que era tudo o que tinha a nos oferecer", afirmou.
"Mas, para nós, esse valor é incipiente e subdimensionado diante
dos desafios do projeto, que engloba um período de dez anos. Isso daria R$ 3
mil por mês, o que não cobre nossos custos de pesquisa, logística,
biólogos..."
Castro também cita outra questão que fez a associação recusar a proposta
da ONG: o fato de que um apoio da Fifa poderia afugentar outros patrocinadores
em potencial. E isso, segundo ele, seria um problema, visto que o valor
oferecido pela confederação cobre apenas três meses do projeto.
"É claro que a escolha de um tatu-bola como mascote nos ajudou, já
que ela acelerou um projeto do governo de proteção. Mas isso não ajudou a
informar a população sobre o fato de ele estar na lista de espécies ameaçadas
de extinção."
Ele conta que um dos projetos valorizava exatamente a informação, fazendo
com que o Fuleco divulgasse o problema, falando para as pessoas acessarem o
site com mais informações sobre o risco, sem valores envolvidos. Mas a proposta
também foi recusada.
De acordo com a Fifa, pelo fato de a ONG ter recusado os recursos
oferecidos, a verba foi redirecionada. "Devido ao grande número de
solicitações de instituições ligadas ao desenvolvimento social e à proteção
ambiental que a FIFA recebe em conexão com a Copa do Mundo, esses recursos
serão destinados a um projeto diferente relacionado a mudanças climáticas no
Brasil."
A federação diz ainda que "escolher o Fuleco como a mascote oficial
da Copa do Mundo da FIFA 2014 tem ajudado a aumentar a conscientização no
Brasil em torno do tatu-bola e seu status como uma espécie vulnerável".
No entanto, a Fifa não respondeu quando questionada como estaria
ajudando nessa conscientização, visto que no site do Fuleco, por exemplo, há
apenas uma menção à situação do animal: "O status da minha espécie
'Vulnerável' (antes ameaçada) faz com que eu esteja ciente dessa
necessidade."
Fonte: BBC
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