quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mestre da arquitetura viveu em fazenda no Bananal

Propriedade que pertence a família de Oscar Niemeyer tem até uma igreja anexa. “Assistíamos missas dentro de casa”, dizia ele, cujo avô dá nome a uma das principais ruas do centro de Maricá
 
 
Pouquíssima gente sabe, mas a ligação de Oscar Niemeyer com a cidade de Maricá vai além da casa construída para o amigo Darcy Ribeiro, na praia de Cordeirinho. O arquiteto, que faleceu no último dia 5 de dezembro, passou uma parte da infância e juventude em uma fazenda cujo nome deu origem ao bairro Bananal, próximo a Ponta Negra. A família do artista era influente na cidade e seu avô, Ribeiro de Almeida (que dá nome a uma das principais ruas do centro), foi ministro do Supremo Tribunal federal (STF).

A equipe do GAZETA RJ foi até o local onde fica a antiga fazenda, hoje administrada por um funcionário, identificado apenas como ‘seu Adélcio’. Ele não quis dar declarações ou maiores informações sobre o local, alegando não ter autorização dos familiares de Oscar Niemeyer. No entanto, as imagens mostram a beleza do lugar, onde há ainda uma igreja anexa à casa principal e uma piscina nos fundos. Na varanda, quadros compostos de azulejos desenhados retratam, segundo o administrador, os três fundadores da fazenda: Maria Antônia Reginalda e os irmãos Luiz Manoel e Joaquim de Azevedo Soares.

A casa grande e a capela estão localizadas no sopé da Serra do Bananal, e apesar das alterações sofridas, a primeira está incluída na tipologia das casas de fazenda do interior fluminense nos séculos XVIII e XIX. Para ter acesso à capela é necessário passar por dentro da casa, que tem seu interior simples com paredes brancas e decoração em dourado.

Foi o próprio artista quem revelou essa parte de sua origem numa entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, publicada posteriormente no livro “As Grandes Entrevistas do Milênio” (Editora Globo). Nela, Niemeyer cita as raízes de sua família em Maricá, quando questionado sobre o fato de se dizer um homem sem crença.

 “Venho de uma família católica – que veio de Maricá, eram fazendeiros. O meu avô foi do Supremo Tribunal. Tínhamos missa em casa, com a presença de vizinhos”, revelou ele, que dizia ainda ter um sítio na cidade, que teria sido presente de um amigo, o empresário Horácio de Carvalho, dono do jornal O Diário e primeiro marido de Lilly de Carvalho – que anos depois veio a se casar como Roberto Marinho, dono das Organizações Globo.

“A velha casa em que morávamos, assobradada, com seis janelas na fachada, a sala de jantar, a longa mesa na qual a família se reunia, a sala de visitas e, depois, a extensa varanda que acompanhava a casa até o fim do terreno, a conversa que se estendia noite adentro a debater os problemas daquela época - mais fácil de viver, com certeza.O meu nome deveria ser, na verdade, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, pois foi na casa do meu avô que nasci e vivi a vida inteira, na rua Passos Manuel, hoje Ribeiro de Almeida. Ele provinha de Maricá, das fazendas que o seu pai, Manuel Ribeiro de Almeida, lá possuía. Era sóbrio, tranquilo, incapaz de levantar a voz para quem quer que fosse”, lembrava Niemeyer.

Maricá terá um oceanário projetado pelo mestre
 

Um dos grandes nomes da arquitetura mundial, Oscar Niemeyer tinha 104 anos e morreu na noite do dia 5, às 21h55 em decorrência de uma infecção respiratória. Ele estava internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Dentre as suas obras se destacam o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o conjunto arquitetônico de Brasília, a construção dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), o sambódromo entre tantas outras no Brasil e mundo a fora.

Em Maricá particularmente, se destaca a casa do amigo e antropólogo Darcy Ribeiro, que por diversas vezes passou as férias de verão com a família na residência de praia do amigo. Darcy havia pedido a Niemeyer um “projetinho” para ele em Maricá. O arquiteto preparou a casa que atendia todas as exigências do indigenista. Uma residência em formato de sol, sem muros, com parte da casa coberta por sapê, fazendo referência às ocas. O espaço se tornou refúgio para o descanso de Darcy, que não arredava pé da rede nem mesmo quando a ressaca lambia toda a frente da casa.

Para o prefeito Washington Quaquá, perdemos a convivênciafísica de um dos maiores brasileiros de todos os tempos.“Ele deixou sua marca no Mundo, na alma brasileira e na paisagem brasileira, e em Maricá. Aqui construiu a casa do Darcy Ribeiro, morou na fazenda no Bananal, próximo a Ponta Negra, e acabamos de encomendar a ultima obra do maior arquiteto de todos os tempos, o ‘Oceanário Niemeyer’, que vai marcar a historia de Maricá, como símbolo da cidade. Niemeyer, como todo grande ícone da historia "sai da vida pra entrar pra historia".

O projeto entregue a Darcy Ribeiro é condizente com as curvas das montanhas brasileiras e das ondas do mar, imagens que sempre o inspiram. “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo”, explicava o mestre.
 

 

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